quarta-feira, 18 de junho de 2008

Figurino como atração principal

'Ir ao cinema para ver o último lançamento de Spielberg (ou de Woody Allen, como insistem alguns) ou aquele filme com a Angelina Jolie que não dá nem para lembrar o nome, bastando o de sua deslumbrante protagonista, é a motivação habitual. Incomum é a tendência, ainda no nascedouro mas já profusamente badalada, de ver um filme por causa, sobretudo, do figurinista. Ou melhor, da figurinista: Patricia Field. Famosa tanto pela cabeleira vermelha quanto pelos arroubos criativos que deram graça a Carrie Bradshaw e companhia no seriado Sex and the City, essa nova-iorquina descendente de armênios e gregos tem levado multidões de mulheres para ver a versão cinematográfica. Feito em pedaços, merecidamente, pelos especialistas, o filme arrecadou em duas semanas 200 milhões de dólares. O público feminino não liga para os comentários da crítica (nem dos homens que se recusam com teimosia a chegar perto dele), interessado primordialmente em duas coisas. Primeiro, saber se a personagem principal, interpretada por Sarah Jessica Parker, vai por fim se casar com Mr. Big, o namorado vai-e-volta. Segundo, e talvez principalmente, ver o que as atrizes estão usando. Expectativa amplamente atendida pelas 300 trocas de roupa das amigas Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda durante os 148 minutos do filme. Na telona, o guarda-roupa, assim como o sexo, se mostra bem menos casual do que na televisão. Mesmo assim, a atração para as loucas por moda está consolidada de maneira tão veemente que, tal como acontece com os grandes diretores de cinema, Patricia está fazendo escola: seu estilo já é replicado, de maneira mais jovem e leve, em Gossip Girl, um seriado em que as roupas também estão no centro das atenções.




Antes de se tornar figurinista, ela era uma stylist, o nome que se dá ao profissional que monta – e afina – a imagem completa apresentada num desfile ou numa foto de moda (roupa, acessórios, maquiagem e clima). Conhecedora de todos os truques do ramo, transpôs para Sex and the City o moderno jeito de compor um figurino chamado de high and low – a mistura de altas grifes com peças baratas de lojas populares. Por causa, justamente, do sucesso da série e do interesse das marcas de luxo em aparecer no filme, especialistas em moda acham que ela ressaltou demais o high e se esqueceu do low. "Patricia Field subiu um pouco o tom do figurino no filme, até como uma tentativa de caracterizar melhor cada uma das personagens", analisa Juliana Maia, responsável pelo departamento de figurinos da MTV. Como a mágica do cinema é fazer o espectador acreditar, durante duas horas, que os arqueólogos usam jaqueta de couro, chapéu e chicote, o público do filme acha perfeitamente aceitável que Carrie exiba, e nomeie, os sete espetaculares vestidos de noiva que arrancam suspiros da platéia: Vera Wang, Carolina Herrera, Christian Lacroix, Lanvin, Dior, Oscar de la Renta e o definitivo, Vivienne Westwood.

Entre o seriado e a versão para o cinema, Patricia Field deixou a sua exuberante marca em O Diabo Veste Prada, outro filme mais famoso pelo guarda-roupa do que pelo roteiro ou pela densidade dramática. Não se espere também nada de tematicamente intenso do seriado Gossip Girl, que tem sua primeira temporada reprisada agora na televisão paga e estréia prevista (como A Garota do Blog), no SBT, para o segundo semestre. Em compensação, as roupinhas das duas protagonistas, alunas de um colégio de elite de Manhattan, são uma delícia. A afinidade com Sex and the City, mostrada nas fotos desta reportagem, não surgiu do acaso: o figurinista Eric Daman trabalhou com Patricia Field e tem qualidades similares – olho para detectar tendências, mão para misturá-las. Gravatinhas, meias cinco-oitavos (dois dedinhos acima do joelho), estampas florais pixelizadas e bolsas gigantescas (e vermelhas) são alguns dos elementos em comum entre as quarentonas de Sex and the City e as adolescentes de Gossip Girl.

As personagens Blair Waldorf (Leigh-ton Meester) e Serena van der Woodsen (Blake Lively) já têm um lugar no mapa da moda de tamanho suficiente para ser chamadas pelo nome. "Tanto a Serena quanto a Carrie misturam o moderno com o folk, o que é genial. A Carrie misturava camiseta hippie com sapato Manolo (Blahnik, evidentemente), e a Serena também tem essa liberdade, por exemplo, de misturar um vestido amarelo mais simples com uma estola de pele", compara a estilista Thais Losso, que acompanha os dois fenômenos com igual atenção. Está certo que é ficção, mas as quarentonas de Sex não parecem juvenis demais, enquanto as garotas de Girl exibem excesso de sofisticação? "Tenho 30 anos e me sinto como se tivesse 20", responde a estilista Letícia Toniazzo, que confessa levar os dois hits no celular. "Minhas amigas de 35 anos se vestem como garotas, de tênis, jeans e camiseta. Ao mesmo tempo, as adolescentes não querem se vestir como meninas de 15 anos, mas como mulheres de 25. Assim, não tem como os figurinos ficarem muito diferentes." E não tem como o guarda-roupa não ser a atração principal, sobretudo num filme em que a noiva troca a aliança de brilhantes por "um closet realmente grande".
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Assita aqui o vídeo com a figurinista Patricia Field.


Fonte: Revista Veja 18.06.2008

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