terça-feira, 23 de setembro de 2008

Na contramão I

Pela primeira vez, vou postar aqui um texto de caráter mais pessoal. Fiquei com vontade de compartilhar reflexões que têm tomado conta da minha mente nos últimos tempos, na medida em que vou lendo jornais, revistas e textos de blogs...

Acelerando...

Acredito que muitas pessoas têm a impressão de que o tempo está voando e parece que, quanto mais ele voa, mais rápido o tempo se vai... há uma sensação quase generalizada de que não conseguimos fazer tudo que queremos. Falta tempo.

Atualmente é muito difícil encontrar revistas que façam reportagens com mais de quatro páginas. Isso porque, para os editores do mundo todo, os leitores têm cada vez menos tempo e paciência para ler. Por isso encontraram a solução de fazer revistas, jornais e livros cada vez mais acelerados. Prova disso são os jornais Metro e Destak, leitura mais rápida e superficial, impossível.

Segundo Carl Honoré, um jornalista canadense, “a proliferação da leitura rápida é um dos sintomas de uma epidemia que assola todas as sociedades industrializadas: o desejo de viver em velocidade. (...) Poderíamos viver muito melhor trocando lanchonetes por banquetes caseiros, fazendo longas horas de sexo e parando de dirigir como pilotos de Fórmula 1".

De acordo com Sérgio Gwercman, “pagamos fortunas por engenhocas tecnológicas que deveriam facilitar nossa vida e continuamos com uma pressa insaciável. Você já deve ter sentido os efeitos desse fenômeno. Lembra quando a internet surgiu? Da maravilha que era saber que trocaríamos mensagens instantâneas e teríamos a biblioteca de Harvard ao alcance, bastando um clique no mouse. Agora pense na última vez que você recebeu um arquivo eletrônico pesado. E dos segundos que esperou para abri-lo, amaldiçoando a velocidade do computador, do provedor, da placa multimídia e do modem. Esses incompetentes que nos obrigam a esperar insuportáveis segundos para baixar... um livro inteiro!”

Autor do livro Acelerado, James Gleick, diz "uma coisa acelera a outra e nos vemos num círculo vicioso aparentemente inquebrável: a tecnologia gera demanda por velocidade, que empurra o desenvolvimento de novas tecnologias que precisam ser mais rápidas".

A última campanha da Diesel, chamada “Live Fast” (viva depressa), mostra em uma, de várias outras imagens, a modelo correndo, de salto, enquanto joga talco no bumbum de um bebê. Achei a idéia muito infeliz. Pensei que talvez essa campanha tivesse a boa intenção de criticar nossos valores atuais e nossos hábitos diários de estar sempre correndo contra o tempo, fazendo tudo apressadamente. Porém sempre acho que uma idéia dessas poderia incentivar essa cultura da velocidade em certas pessoas – como o filme Laranja Mecânica poderia influenciar estudantes a executarem atentados a escolas norte-americanas.

O conceito “fast fashion”, adotado inicialmente pelas marcas Zara e H&M – e já sendo implantado por diversas marcas brasileiras – consiste no lançamento de várias minicoleções (ao invés das tradicionais duas coleções de roupas por ano) que buscam antecipar as novidades a caminho das vitrines dos principais mercados de moda e gerar um fluxo acelerado de vendas. Na prática, significa estar com as prateleiras abastecidas de novidades para os consumidores sempre; as coleções vão entrando nas lojas a cada semana ou mesmo com intervalos de dias. A idéia é que a produção se espalhe em mais modelos e ganhe variedade. “A loja cria uma relação mais intensa com o consumidor, porque educa o cliente a não esperar por liquidações. Se ele não comprar logo a peça de que gostou, semana que vem ela já pode ter sido vendida. O cliente passa a ir mais ao ponto de venda e, em conseqüência, compra mais”, explica Alberto Serrentino.

Para reflexão: quanto mais rápido e mais acesso à informações temos, mais superficiais, individualistas e menos humanos nos tornamos...

3 comentários:

Fabi Uchi disse...

Ju, o texto ficou incrível. Adoro as suas referências e o jeito como você escreve. Você deveria MUITO fazer isso mais vezes!

Eneida Freire disse...

Achei ótimo o blog, gostei mto.
Adoro os temas moda e comportamento e falo mto disso, de modo informal e despretensioso no meu blog http://tengavolantes.blogspot.com
Vou passar mais por aqui!

Anônimo disse...

oi Ju....Superconcordo com o que voce escreveu. Isso na verdade gera no ser humano uma anciedade insaciavel e doentia. Dai todos os yogas e meditacoes....Acho que na verdade eh algo incorrigivel, irrevogavel. Impossivel fugir desse processo, tornar a andar mais lento na direcao contraria de tudo isso causaria somente seu proprio atropelamento. Acho que isso faz realmente parte do desenvolvimento das capacidades humanas. Enquanto uns sofrem com isso, outros se dao muito bem. E todo esse processo na moda tem sido muito curioso. Entra tambem naquela parte de que estavamos conversando outro dia sobre a qualidade a qual estamos buscando...fica ai uma reflexao: ( isso se eh que teremos tempo de parar para refletir !!! )