terça-feira, 18 de novembro de 2008

Meu Tio

No filme Meu Tio (Mon Oncle), de Jacques Tati, “o senhor e a senhora Arpel têm uma casa moderna num quarteirão asséptico. Eles têm tudo, conseguiram tudo, na casa deles é tudo novo: o jardim é novo, a casa é nova, os livros são novos. Neste universo tão confortável, tão clean, tão high-tech, tão bem programado, o humor, os jogos e a sorte não têm lugar. E o filho Gérard aborrece-se de morte. É então que irrompe o irmão da senhora, o tio, o Sr. Hulot. Personagem inadaptada, habituada ao seu mundo caloroso, vai, para delírio do sobrinho, virar tudo de pernas para o ar.”

O filme é de 1958, mas permanece tremendamente atual. Representa um período pós-guerra na França e aborda a orientação para ambientes futuristas, retratando a evolução do design em contraste com os ambientes tradicionais vividos num bairro francês.




Tati utiliza uma linguagem simples sobre assuntos complexos. Num argumento onde os diálogos são quase inexistentes, consegue retratar um ambiente de cinema mudo, onde o riso surge espontaneamente em resposta às ações das personagens, mas consegue também concentrar a nossa atenção para todos os aspectos não verbais, que acabam por servir como metáforas das questões que o filme levanta.

Meu Tio estabelece uma crítica à arquitetura moderna e satiriza as interferências provocadas pelas inovações tecnológicas e indutoras de um modo de vida onde se manifestam comportamentos ridículos. Nos permite comparar a arquitetura tradicional com a moderna; a separação entre o público e o privado, ordem e desordem; faz crítica não apenas à forma, mas também à função como a circulação e as trajetórias a que são obrigados os usuários da casa, em decorrência de sua forma.





Mas, na verdade, o que mais me chamou atenção é a crítica que Tati faz ao progresso como fonte de satisfação, ostentação e luxo. Retrata a valorização exacerbada pelas classes média-alta a esses valores – tecnologia ultra moderna e evolução do design - em detrimento de valores de maior proximidade com o outro.

Gérard, o filho do casal, que ao lado do tio considerado subversivo aos conceitos da sociedade burguesa e alienado da comunidade familiar, descobre novos horizontes em sua vida. Trata-se de uma alegria genuína, inocente e verdadeira, distante das armadilhas da tecnologia moderna, da rotina, da padronização e do senso-comum.

Quem sabe esse menininho não influenciará essas pessoas?!

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